Um estudo liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP revelou que a demência e outros comprometimentos cognitivos são frequentemente ignorados por equipes hospitalares, mesmo com sua alta prevalência entre idosos internados. Publicada no Journal of the American Geriatrics Society, a pesquisa aponta que dois terços dos pacientes com 65 anos ou mais apresentam algum grau de déficit cognitivo, sendo que um terço tem demência — e metade desses casos sequer havia sido diagnosticada anteriormente.
Segundo o professor Márlon Aliberti, autor principal do estudo, o foco dos profissionais costuma estar apenas na doença aguda que levou à internação, como infecções ou problemas cardíacos, deixando de lado condições cognitivas preexistentes que impactam diretamente o tratamento, a reabilitação e o tempo de internação.
Para enfrentar essa lacuna, os pesquisadores propõem uma triagem simples e ível: uma entrevista com familiares nos primeiros dias de internação, voltada a identificar sinais de alterações cognitivas anteriores ao episódio agudo. A técnica, que não substitui o diagnóstico clínico, se mostrou mais de 90% eficaz em testes realizados em cinco hospitais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife.
A professora Claudia Suemoto, que coordenou o estudo, destaca que a identificação precoce permite planejar melhor os cuidados durante e após a internação, inclusive orientando as famílias sobre o e necessário no retorno ao lar.
Com resultados promissores, a metodologia será ampliada para a rede de instituições do grupo Change, abrangendo 43 hospitais no Brasil e em países como Angola, Chile, Colômbia e Portugal. Mais de 250 profissionais já foram capacitados.
O trabalho contou ainda com a participação da professora Monica Yassuda, da USP Leste, e da médica Regina Magaldi, do Hospital das Clínicas da USP. Estima-se que, até 2050, o número global de pessoas com demência ultrae 150 milhões — hoje, já são cerca de 57 milhões, incluindo 2,5 milhões de brasileiros.
Com informações Agência Brasil